
Depressão: Uma Abordagem Existencialista na Psicologia
Compreendendo a depressão: a visão única do indivíduo sob uma abordagem fenomenológica.
Existe um tipo de cansaço que vai além do corpo, é o que podemos chamar de um cansaço da alma. Um cansaço silencioso, difícil de nomear, que vai se acumulando nos gestos, nas palavras engolidas, nas vontades abafadas. É o cansaço de quem se perdeu de si, de quem vive tentando agradar; o tempo todo.
Quantas de nós já ouvimos o que era esperado do comportamento de uma mulher? A expectativa de que sejamos amáveis, compreensivas, úteis e “fáceis de lidar”. Para muitas mulheres, agradar se tornou uma forma de sobreviver, o caminho para ser aceita. Moldaram-se às expectativas alheias como se isso fosse natural. Mas o que acontece com quem se molda demais? O que sobra de si quando tudo foi adaptado para caber nos espaços dos outros?
Viver a vida em função do outro nos afasta de nós mesmas, e isso causa a sensação de estar vivendo uma vida pela metade, sempre ansiosa, sempre em dúvida se é suficiente. Infelizmente, vejo isso com frequência na clínica, mulheres que não sabem mais dizer o que desejam. Estão tão habituadas a se colocar em segundo plano, a dizer “sim” quando querem dizer “não”, que a própria vontade se torna um território estranho. Vivem numa espécie de piloto automático, tentando não decepcionar, não incomodar, não causar. Ouço, muitas vezes, sobre a culpa de se priorizar, o medo de ser egoísta, de não enxergar os outros, de não zelar. Entendo que o esforço contínuo de agradar pode parecer, num primeiro momento, um gesto de amor, de cuidado com o outro. Mas muitas vezes, o que esse comportamento encobre é o medo. Medo de ser deixada, de ser considerada “difícil”, de não merecer afeto, de perder o amor. A necessidade de aceitação se sobrepõe à liberdade de existir com autenticidade.
E isso cobra um preço. Gera o peso do não-dito. Quando alguém se molda o tempo todo, algo dentro dela começa a se calar. Os sentimentos começam a se confundir e perder o sentido; a raiva é abafada por um sorriso, a tristeza se esconde atrás da força, e a angústia vira uma eterna confirmação de “tá tudo bem”. Mas não está tudo bem. E o corpo fala — como fala. Surgem as dores de cabeça, o sono leve, o nó na garganta, a indigestão, o aperto no peito, a sensação de estar sempre no limite, o sono que não descansa. Poderia listar uma série de sintomas que nascem desse silenciamento.
A tentativa constante de agradar, muitas vezes, indica uma ruptura com a própria autenticidade. Quando se tenta ser o que o outro espera, há um afastamento de quem realmente se é. O sofrimento psíquico emerge quando há uma ruptura no modo como a pessoa se relaciona com o mundo e consigo mesma. E a grande questão que fica é: então, quem eu sou? E talvez, principalmente: quem eu sou, se não estiver tentando agradar? Essa é uma pergunta que pode causar um desconforto profundo, porque muitas mulheres mal tiveram a oportunidade de realmente se conhecerem, suas identidades foram construídas em função da aprovação alheia. A possibilidade de desagradar parece impensável, como se fosse egoísmo ou sinônimo de abandono.
Mas é justamente nesse ponto que a psicoterapia pode abrir caminhos. Não se trata de ensinar a “ser mais egoísta” ou “se impor” a qualquer custo, mas de convidar à escuta interna: o que é que você sente? O que é que você quer? Como seria viver a partir de si, e não apenas em reação ao outro? A experiência clínica mostra que, aos poucos, quando essas perguntas são acolhidas com cuidado, surgem possibilidades de existência mais autênticas. As mulheres começam a perceber que não é egoísmo estabelecer limites, é, na verdade, uma forma de se respeitarem.
É claro que a maior parte das mulheres que vivem nesse lugar do agrado constante não escolheram estar ali. Foram levadas, ensinadas, condicionadas. A mudança, portanto, não passa por culpa ou correção, mas por consciência e cuidado. Olhar para si mesma com mais respeito, afeto, acolhendo suas emoções e validando os próprios sentimentos, isso aproxima você de si. Sustentar a própria verdade pode, sim, gerar desconforto. Pode ser que alguns laços se modifiquem, que relações se revelem frágeis demais para sustentar a autenticidade. Mas também pode ser o início de algo novo: relações mais verdadeiras, escolhas mais conscientes, uma vida menos cansada.
O cansaço de quem tenta agradar não é fraqueza, é sinal de que algo em você está pedindo espaço. E talvez seja hora de escutar esse chamado.
Por Joyce Garbazza – Psicóloga Clínica – maio/2025
Compreendendo a depressão: a visão única do indivíduo sob uma abordagem fenomenológica.
Este site utiliza cookies para melhorar a sua experiência de usabilidade. Ao continuar a utilizar este site, você concorda com a nossa política de privacidade.